5º Capítulo
De cruzada num “povoadito” distante, destes que se erguem nas lonjuras, vinha o andarilho depois de um dia inteiro caminhando pela estrada da linha, por entre os marcos da divisa. Foi quando escutou vozes em alvoroço que vinham de um bolicho, donde nos finais de semana se dava o movimento da indiada naquele rincão;carreira , tava, truco, “bailezito” de ramada, enfim...se achegou por lá; assim, meio como quem não quer nada, foi campeando o rumo da copa, e já, meio de longe avistou o bolicheiro;
por coincidência era o mesmo homem que tinha um bolicho na cidade, e que volta e meia lhe dava um trago, por costume de servir aos andarilhos que tinham nada mais que a estrada, e a esperança de encontrar um canto pra descansar, e um prato de “bóia” pra matar a fome, pra só depois,seguir na direção do -sabe DEUS- onde chegar.
Quando escorou-se no balcão da copa, o bolicheiro, por vaqueano deu de mão numa “boteja” vazia que estava atrás do balcão, e n’outra de vinho que ainda estava pelo gargalo, destampou e acomodou um pouco menos de meia para ofertar ao andarilho, que sem pensar duas vezes já empinou o primeiro gole ali no más. “Empessaram” a prosear:
- Então vivente!Como andam os rumos da querência? Disse o bolicheiro.
De pronto o andarilho respondeu-lhe:
- Vão indo... Disse ele. Ouviram-se as gargalhadas dos que estavam ali por perto e pararam o ouvido para prestar atenção no que diria o andarilho; foi quando então o andarilho que pouco costumava falar indagou ao bolicheiro:
-Como anda a vida “ermão”?
E logo escutou o bolicheiro dizendo que na medida do possível, estava tudo bem graças a DEUS, não sobrava muito, mas também, nada faltava, bem por isso dividia um pouco com quem nada tinha (além das estradas e deste mundão “véio” de DEUS para andar). Nisso, o bolicheiro ofertou-lhe um catre forrado de pelego, que estava armado num puxadinho de tábua atrás da copa, se acaso quisesse passar a noite pra refazer-se da estrada, e no outro dia sim, seguir em frente; num gesto ainda mais nobre, o bolicheiro deu de mão numas bolachas e num fiambre e enfiou pra dentro da mala de garupa do andarilho, que sem demora agradeceu e disse: - Que DEUS lhe abençõe.
Já os que estavam na volta, esperando mais algum motivo pra começar o deboche, e as chacotas as custas daquele homem humilde e despilchado que chegou pro lá, pararam as gargalhadas aos poucos quando se deram conta do que estavam testemunhando. Era uma prosa cordial onde as diferenças uniam dois seres humanos a partir do momento em que um estendeu a mão pro outro, exatamente o que se busca pra que de fato se concretize o que tanto se diz: “Dias melhores virão”.
Pena que muito se diga e pouco se faça.
Tchê! esse capítulo saiu ajeitado,não que os outros não sejam! mas esse retratou bem a indiferencia de alguns qüeras que de quando em vez nos deparamos nas volteadas da vida!
ResponderExcluirTo acompanhando o "Rimance do Andarilho" assim como teus outros trabalhos sou grande admirador das tuas artes! Um baita abraço!
Junior Oliveira
Me reportei aos arrabaldes da linha com esse capítulo. meu irmão de alma e sentimento, que Deus te abençoe! Estamos acompanhando capítulo por capítulo desta passagem, com a certeza de grande enriquecimento literário ao meio em que vivemos! segue em frente Zeca Viejo, "que a estrada é comprida e andar vale a pena"... e nós sabemos disso!
ResponderExcluirPor andarilho que me acho num mundo virtual, me deparo com teu trabalho, tchê. Estou inciando as leituras e fico faceiro por saber que alguém se dedique a um trabalho como esses, e o melhor disponível para que todos tenham acesso.
ResponderExcluirSem dúvida que passarei adiante teu blogue.
Sucesso, gaúcho.
Abraço
Baruio
www.baruio.com
www.artecrioula.blogspot.com