7º Capítulo
Vinha de cruzada quase em frente a um rancho de campo, destes ranchos “muy” antigos que ainda resistem ao tempo nos fundões de corredor, quando a sede pegou a lhe ressecar a garganta... ali naquele rancho antigo, morava uma senhora que há muito tempo havia ficado “solita”, o seu esposo já era falecido, um dos filhos rumou para o povo e raras eram as vezes que podia lhe fazer alguma visita, o outro filho ficou por ali mesmo, mas volta e meia empreitava algum “servicito” ali pelas redondezas; bueno...o fato é que por conta dos anos que somava, essa senhora já não tinha mais tanta lucidez, a memória por vezes lhe fazia alguma picardia. Ao chegar em frente a cancela o andarilho sedento bateu palmas, uma, duas, três vezes; tirou a mala de garupa do ombro e descansou sobre os pastos, bem contra os pés; até que surgiu aquela senhora; “corpito” curvo, uma “bengalita” que lhe dava apoio e equilíbrio, e sem demora aproximou-se querendo abraçar-lhe e o chamando de filho. Quando tentou explicar que estava apenas cruzando e chegou para pedir um pouco d’água , que não era quem ela estava pensando, logo viu que de nada adiantaria, pois aquela pobre velhinha era saudosa dos carinhos do filho que rumou pro povo; então o andarilho sentou-se na sombra de um paraíso bem copado que se projetava sobre a grama verde do para-peito do rancho, para unir o útil ao agradável; deu-lhe um pouco de atenção e recebeu em troca, água, pão e um “docezito” caseiro (costume antigo e cordial que as mulheres da campanha tem de receber as visitas com algo bom para ofertar). Conversa vai, conversa vem, depois de um “tempito” ali naquela sombra, o andarilho ergueu-se da banca em que havia sentado, deu-lhe um abraço prometendo que voltaria para revê-la, só não disse quando; também... de pouco adiantaria, já que a memória daquela senhora era um bom tanto falha; num largo abraço, destes que confortam a alma, se despediu e de novo pegou a estrada, agora com a sensação de ter praticado o bem, e ter recebido o bem que desejou a outrem.
Tanto no olhar da velhinha, quanto no olhar do andarilho as lágrimas corriam, descendo silentes pelo rosto, mesclando um gosto de amor, compaixão e dever cumprido, pois a luz que lhes proporcionou aquele momento, com certeza é a que mais dignifica os seres durante a jornada terrena. Mais uma vez o andarilho ergueu os olhos pra o céu agradecendo por tudo e sem mais delongas acenou dizendo:
- Fique com DEUS “mamãe”.
- Bom se fosse. Pensou consigo.
Que lindo os causos Zeca! Que a paz do Andarilho esteja conosco!
ResponderExcluirAbraços