4º capítulo
Ao chegar na mesma estância, onde um dia apareceu ajudando um “-índio carrancudo-” e “mala bruja” a carregar um par de arreios, o andarilho deparou-se com as mudanças no lugar; mudanças estas que volta e meia acontecem dependendo da situação. O capataz já não era mais o mesmo, a peonada também não, as porteiras já não ficavam mais sem cadeado, o estabelecimento já não pertencia mais ao antigo dono. A ordem do novo patrão era pra que o capataz, ou, quem quer que fosse não desse pousada para andantes, nem tropeiros...
Por força das circunstâncias teve de dar meia volta e buscar abrigo ali por perto, do lado de lá da porteira, e já na boca da noite acomodou-se debaixo de um “caponête” de mato que havia do outro lado do corredor, tendo por catre o “pajonal”, que de tão alto já estava dobrando ao meio, e por travesseiro a própria mala; a fome vinha batendo os costados desde cedo, pois, nem pouso nem “bóia” lhe foram concebidos, e por conta das lonjuras também não havia almoçado. Era uma noite de sábado pra domingo, lua no quarto crescente, de repente um floreio de cordeona ecoou pelos ares...vinha lá do galpão onde o pouso de tantas outras vezes já não era concebido; pelo jeito aquele era um prenúncio de festança, pois nestes fundões da querência, estando de folga, qualquer motivo é pretexto pra comer uma carne assada; o floreio foi se estendendo até apontarem as barras do dia, a fumaça levava por diante o cheiro da graxa que pingava nas brasas, e mesmo antes de clarear o dia se avistava o movimento de gente chegando, batendo estribos e esporas, por bem montados; era dia de marcação. A terneirada que estava no potreiro grande dos fundos foi trazida pra mangueira ainda “cedito”. O fato é que a fome apertava cada vez mais o andarilho que nada podia fazer, a não ser testemunhar a fartura de longe. Desta vez o instinto de sobrevivência “empessou” a falar mais alto, foi quando então percebeu que o movimento pegava o rumo de um mangueirão distante uns cento e tantos metros do galpão, o cheiro de carne assada lhe causava cada vez mais inquietação; pegou a negacear o movimento, buscou a volta num topete de coxilha que havia por de trás do galpão, esperou o momento exato de distração dos que lá estavam, e mais que ligeiro deu de mão numa paleta de ovelha que havia sido posta certamente pra acompanhar o café da manhã; rumou ao lugar onde havia passado a noite, do outro lado do corredor. Depois de matar a fome que lhe consumia, em verdade, parou pra pensar melhor; foi quando então percebeu o porquê das ordens do novo proprietário do estabelecimento:
- Perante alguns fatos, o melhor jeito é ter precaução. Mas será que não seria melhor tomar ciência dos motivos que fazem as coisas descambarem no rumo do egocentrismo, para que possamos todos viver em paz como gostariamos!?
O andarilho suspirou fundo, e mais uma vez ergueu os olhos pra o céu, desta vez á pedir perdão; levantou-se devagarzinho, e seguiu sua caminhada, remoendo a lembrança de um tempo mais positivo em que andejou pela mesma estrada, no subconsciente uma velha reflexão: “Bons tempos aqueles, pena que não voltam mais”. Buscou então amenizar a saudade assoviando uma cantiga.
Neste capítulo fica a homenagem ao poeta maior, Jayme Caetano Braun, cuja luz ainda paira sobre esse plano em forma de versos:
“Talvez, talvez algum dia eu possa voltar ao pago bendito”...
naõ poderia passar aqui e não fazer um 'alto' me apear e postar um comentario. zeca véio que DEUS abençoe e ilumine teus textos e teus poemas e segue nesse passo firme em mais essa enpreitada. abraço do amigo evair gomez
ResponderExcluir