terça-feira, 31 de julho de 2012

Cavalo de tiro

Há um cavalo de tiro pra toda estrada comprida,
que vai tenteando o cabresto, mas vai tranqueando com a vida...
Um pingo manso de arreio que nos leve em rumo certo,
pois dependendo dos sonhos, nem tudo fica tão perto.

Feito um cavalo de tiro que se adelgaça sentando,
o homem vai pela estrada e segue assim, se costeando;
depois de muito estropiar-se traz o olhar mais profundo,
e aprende a livrar as pedras pra andejar pelo mundo.

Igual aos tentos da trança que aos poucos vão se afinando,
A vida é feita de rumos, e ao tranco vamos cruzando...
Que da porteira pra fora, os sonhos batem as asas,
e a paz que a gente procura "tá" aquerenciada nas casas.

Quem cruza as madrugadas firmando a rédea na trança,
deixa o suor pro sereno, depois que o pingo se cansa...
Que a estrada mostra a distância pra que a gente não se iluda,
que é preciso ter caminho, não basta um pingo de muda.

O cabresto apresilhado vai firmando o cinchador,
e traz com ele um motivo pra quem aprende com a dor...
Pois o corredor que leva, nos traz de volta também;
Junto a um cavalo de tiro, vai a saudade de alguém.

Talvez por isso que o tempo, a cada légua vencida,
nos cobra o tanto que andamos, pelas volteadas da lida,
pra nos dar um outro tanto, como forma de experiência,
e mostrar pelas distâncias, quanto vale ter querência.

Porque a vida tem sentidos que a gente sabe e não diz,
e sempre cansa o cavalo, tentado assim, ser feliz!
Mas quem tem pingo de tiro olha a estrada diferente,
apeia, troca os arreios, e toca a vida pra frente.

                                                         Zeca Alves & Gujo Teixeira


segunda-feira, 30 de julho de 2012

Coxilha

                                                            

      Depois de um final de semana muito agradável, volto á matear em silêncio, e mais uma vez me transporto ao meu interior, que é o que mais gosto de fazer; são nestas horas de interiorização que revejo meus rumos, e tudo aquilo que tenho DITO E FEITO... penso que deixei a desejar quando:
      -Esqueci de agradecer publicamente ao povo cruzaltense, principalmente aos urbanos, pois ao manifestar o apreço que tenho a minha terra, minha gente, minhas origens, sequer passou pela minha cabeça a possibilidade de despertar o complexo de inferioridade de uns e outros. Mas, é compreensível, somos seres humanos, e seres humanos são falhos. Partindo deste princípio, ao mesmo tempo que venho agradecer ao POVO cruzaltense, também venho através desta reflexão escrita, pedir perdão, se aquilo que mais prezo causou uma situação desconfortável através da falta de maturidade daqueles que por viverem de alma armada, acabam por distorcerem o que foi dito com a simples intenção de bendizer a querência que amo tanto.
     Creio que maturidade nem sempre se adquire com o passar dos anos, maturidade é um princípio que acompanha a humildade, humildade que não significa o jeito de mostrar-se ou de APARECER, e sim, o jeito de SER. Respeito a todos, inclusive ao urbanos, posto que, minha mãe é urbana, e eu não seria tão ingrato a ponto de esquecer quem me deu educação o suficiente para transitar em qualquer meio, conviver com qualquer tipo de gente, indiferente de classe social, cotidiano, etc, etc, etc... muito embora meu grau de estudo seja o mínimo (fator que não serve de exemplo pra ninguém), o maior orgulho de minha mãe (mulher URBANA) é justamente a questão de ter cumprido a missão de preparar os filhos para que pudessem andar por aí (mundo afora) com orgulho de serem dignos, de terem dignidade; Filhos sem vícios prejudiciais á imagem, á saúde, e incapazes de induzir novas gerações a qualquer descaminho no rumo dos princípios morais e éticos.
      Perdoem se acaso este CAMPEIRO, não soube expressar o orgulho de ser quem é!?
      Deixo aqui, com outras palavras, de um sábio filósofo CAMPEIRO, o que eu disse durante a premiação da 32ª Coxilha Nativista de Cruz Alta!

       "Meu canto não conhece desencanto,vem peleando a tanto, tanto, mas não cansa de pelear...
        hoje ja se houve a ressonância desta voz de peão de estância conquistando seu lugar."

       "Canto e minha voz quando levanto, não traz ódio, nem maldade, coisas que não sei sentir.
        Hoje o amanhã não me fascina, tenho o ontem que me ensina, e se disser eu vou mentir."

       "Peço pra quem julga e dá conceito, que esqueça o preconceito e me aceite como sou:
       -Manso como água de cacimba, mas palanque que não cimbra porquê o tempo enraizou."

       "Meu canto tem cheiro de terra e pampa, é um andejo que se acampa tendo o mundo por galpão!
        Grito pra que o mundo inteiro ouça, que é raiz de muita força rebrotando deste chão."

       "Canto nesta terra onde me planto, mas não pisem no meu pala que eu me empaco e me boleio.
        Canto pra pedir mais igualdade, e quem não gosta da verdade que se aparte do rodeio."

                                                                                                                          Adair Rubim de Freitas.
   
                Que venham outras coxilhas, que Cruz Alta siga esta terra abençoada culturalmente!


                Esta é minha sincera homenagem a todos aqueles que realmente me conhecem e sabem dos meus princípios morais, e dos valores que prezo, mas que acima de tudo me compreendem, me aceitam como sou, e me respeitam.

                                                              Aos demais... Meus lamentos!

                                                                                     Tchau e Gracias! Zeca Alves!
     

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Passagens...

                                               


















 Recordo tantas passagens neste viver de peão,
 Que por vezes me pergunto: “Quantas ainda virão”?
 É o jeito antigo que tenho, e que bem sabem os meus,
 De refazer o caminho pra estar mais perto de DEUS.

Ao de redor do braseiro me paro mais pensativo,
Olhando a vida de longe porque me sobram motivos.
No respingar da cambona, que vai molhando o topete,
O mate é parte de um ciclo onde tudo se repete.

Nascer é parte daquilo que já nos foi concebido,
Posto que os olhos se abrem para o que for percebido...
Como se tudo voltasse por conta do que existiu
Levando o ser novamente ao ponto de onde partiu.

O labutar recomeça todos os dias, e assim...
Vou a cavalo de encontro ao que faz parte de mim;
Pois, meu estado de espírito, reencontrei neste plano,
Na condição de querência, d’onde voltei ser humano.

Mas, sempre levo comigo uma saudade incontida,
Que marca várias passagens com chegadas e partidas,
E vejo nas despedidas, das tantas que a vida tem,
Que ela se faz de quem parte, e de quem fica também.

De um lado ao outro da vida, um eterno vem e vai;
Uma lembrança, um sorriso, uma lágrima que cai;
No ciclo, enfim, das esperas, entre o antes e o depois...
Há um sentimento constante, igual a um marco entre os dois.

Daí se explica esse jeito de reviver um momento,
Mesmo só por um instante, através do pensamento;
Os desencontros são fatos nesta sina de andar,
Cuja falta que sentimos, depois de nós vai ficar.

Quando o silêncio transporta o homem pra dentro de si,
Deixa o olhar mais distante, como fosse além daqui...
Onde os “recuerdos” revelam o sentido da existência,
E a matéria não separa espírito e consciência.

São circunstâncias do tempo, que pela mão nos conduz
Os caminhos que, em verdade, se mostram plenos de luz...
Sendo que a alma da gente, por certo sabe a razão
Que nos leva em rumo certo, ao sem fim da imensidão

                                                                     Zeca Alves.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Homens de bem

Existem certas coisas na vida, que podem parecer escassas aos olhos de tantos, porém, pra quem acredita e tem motivos de sobra, o querer bem ainda vai muito além das distâncias, o querer está nos olhos daqueles que se admiram, se respeitam e que acima de tudo sabem o verdadeiro valor de uma AMIZADE, daí surge a gratidão, o carinho, e a certeza de não se estar sozinho em momento algum. Reparto com os amigos uma sincera homenagem que o cumpadre Érlon (Padrinho do Candoca) fez, e nos encheu de um orgulho que, diga-se de passagem, não tem o mínimo de vaidade, mas muito de um sentimento recíproco que faz dos homens de bem, seres humanos contribuintes em prol de um mundo melhor! Gracias cumpadre! Paz e luz sempre!

segunda-feira, 18 de junho de 2012

         Ainda hoje cedo, me peguei mais uma vez repensando a vida, revendo os rumos, e repensando o caminho a seguir; e como graças a DEUS meu universo é uma vertente inesgotável de trilhas sonoras que dão sentido ao que sei e penso; mais uma vez, minh'alma permitiu que a condição de ser humano transcendesse em lágrimas aquilo que vivo, e sinto que fazem parte da minha razão de existir, desta vez o poeta me diz bem mais do que procuro, me diz exatamente o que pretendo reviver; e como não bastasse, a obra está registrada na voz de um cantor, que pra mim é parte viva do campo (Fabiano Bacchieri).

Tenho o prazer de repartir estas coisas simples da vida com os amigos! Gracias meu DEUS!

Cantiga pra um final de doma

"Um claro de lua ponteou no horizonte,
Debruçando estrelas do céu pras esporas...
A silhueta negra dos pingos troteando
é um quadro gaúcho, corredor afora".

"Trago de tiro um baio rabicano,
Cismado de baixo, e recém sujeitando;
Levo a tristeza de entregar já pronto,
Este zaino estrela que vem me embalando".

"Pingo buenaço que domei com gosto,
pra apartar terneiro em claro de rodeio...
que corta o rastro no peso do corpo,
e senta a cola no embalo do freio".

"Este é o destino de quem doma potros:
-Negacear a sorte em lombos de cavalos,
Ganhar a vida roseteando os malos,
E aprontar os buenos pra o andar dos outros".

"Então me vejo voltando no baio,
bobeando a cabeça, blandeando pra o céu...
Que doma nova é um braseiro morno,
E o mango, a faísca, para um fogaréu".

"Na lua grande o olhar da linda,
num castanho claro vestindo a invernada;
É um veneno pra quem vem solito,
Campeando achego no sem fim da estrada."

"Talvez por instinto eu afago um manso,
ou surro cruzado quando corcoveia:
-É o sangue sulino de algum ancestral,
é um bagual bufando no correr da veia."

Marcio Nunes Corrêa.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Pra dona dos meus carinhos

 
 Seis anos  já se passaram...
 E parece que foi ontem, graças a DEUS!
 Que meus olhos se encontraram
 Ao mirar os olhos teus.

 Seis anos já se passaram...
 E outros tantos hão de vir,
 Multiplicando carinhos
 Com motivos pra seguir.


                                                       Seis anos já se passaram...
                                                        Tão ligeiro que nem vi;
                                                       Que até mesmo a vida inteira
                                                       É pouco pra entregar pra ti.
                                                                                                
        Gracias meu amor, pela dedicação, carinho e compreensão dedicada a mim e aos nossos filhos
no decorrer do tempo, que se faz mais intenso e menos perceptível desde o dia 15 de junho de 2006.
                               
                                                                                                                              Zeca Alves.

         E aos que ficam pensativos quando menciono a evolução espiritual do poeta Gujo Teixeira, aqui mais uma constatação de que sua alma com certeza já cruzou várias picadas, dessas que e gente ainda vai cruzar, repisando seu próprio rastro; talvez por isso o registro versejado: Para que tenhamos maior compreensão de tudo que o tempo nos apresenta.

"Eu sei morena, não é só saudade
nesses meus olhos querendo te ver.
Já se perderam por tantos olhares
mas hoje sabem o que é um bem querer. "

"Por isso, linda, meus olhos se acharam
pois buscam apenas o que sabem ter
as coisas boas que me alegram a vida
o teu olhar e o teu bem querer."

                           Gujo Teixeira.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Prosseguir...

Hoje estão fazendo cinco anos exatos
que comecei a entender exatamente o sentido da vida,
e que a cada dia que passa revejo o caminho percorrido,
e o rumo a seguir com mais clareza graças a DEUS. Pois
com a benção lá de cima sei que:
-Origem é um luzeiro que fortalece as raízes através da procedência.
-Viver é dimensionar o tempo conforme o que a alma tem
pra revelar a cada instante.
-Ser feliz é fazer valer a pena, todo e qualquer sacrifício em prol daqueles que amamos...

Pois não me canso de morrer:
De amor.
De saudade.
De frio.
De calor.
De cansaço.
Enfim, de sentir na flor da pele a intensidade da existência, que se revela sempre mais valiosa quando um luzeiro se resume nos olhos, no sorriso e nos gestos de um ser que me ensina mais e mais, o verdadeiro sentido das palavras amor e compaixão, que se propagam toda vez que os regressos me dão o prazer de estar junto aos meus amores, e me fazem esquecer os tantos momentos árduos vividos, e dimensionar os bons momentos que embora pra muitos pareçam serem poucos, mas que pra mim hão de ficar marcados pra eternidade, enquanto os demais se fazem, e se farão passageiros.

Gracias meu DEUS!
Pela família que tenho, e pela graça de ser pai, amigo, e responsável pelo caminho a ser seguido por quem me ensina bem mais do que penso, quando penso ensinar sempre o melhor que posso.

Feliz Aniversário meu filho, meu amor, meu amigo João Cândido Alves. Primeiro fruto de um amor que me faz mais apreensivo e feliz numa vigilia constante pelo amanhã.
Por isso que após morrer tantas vezes, reencontro motivos para renascer.
                                                                                                        Zeca Alves.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

De luz e alma...

     

"A perda é quando: Muito te concentras no que poderia ter sido, e não te apercebes de tudo que continuará a ser".                                                                                                                                                                                                                                                                         (Autor desconhecido)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Além de pedra e silêncio...

Todo silêncio é pouco...

    Talvez por isso, sigo mateando calado, enquanto a alma em manifestos dirige palavras aos dedos; palavras que brotam das inquietudes que trago no mais profundo do ser, principalmente quando por costumeiro revejo meus dias, e me pego a olhar a vida de longe, e as coisas ao meu redor...
     Como todo santo dia nesta passagem terrena, a existência revela fatos que acabam por habitar o pensamento dos seres humanos que ainda acreditam que nem tudo está perdido, e que a humanidade enfim irá reencontrar o caminho onde o bem há de imperar absoluto.
      Então, o silêncio mais uma vez brota sentido...
       No estado errante que nós homens nos encontramos sobre a terra, é inegável que todos temos a necessidade de evoluir moral e espiritualmente, para que possamos seguir a caminhada na direção de tudo aquilo que um dia nos revelará a plenitude do existir.As reflexões então me indagam sobre gestos e buscas que uns e outros fazem única e tão somente para alimentar o ego.
       Por tantas vezes testemunhamos homens dizendo uma coisa, e fazendo outra, tal como se o que dissessem fosse lhes isentar do que realmente pensam; e numa busca incessante pelo supérfluo acabam envolvidos pela puerilidade deste mundo, e, por conseguinte, esquecem suas obrigações para consigo e seus semelhantes, e junto á isso, deixam de somar ao porvir...
         Seria este o motivo para que o silêncio de quem observa, lhes mostrassem frios?
        -Que os desprovidos de compaixão pelo menos olhem pra os seus semelhantes como pra si mesmos, é respeitando que um ser se faz respeitado, é praticando a caridade que o ser se habilita a ter mais luz na caminhada.
         Quando aqueles que aqui se encontram estiverem além da vida, trilhando o caminho das sombras que eles mesmos seguiram, que DEUS e os espíritos de luz lhes confortem e lhes guiem, iluminando seus pensamentos para que tudo enfim se esclareça da melhor maneira possível. Que suas almas tenham perceptividade maior em relação á esta existência, e á tudo que fizeram sem pensar nas consequências. Mas, que ainda aqui, percebam antes tarde do que nunca, o quanto erraram, porque sempre há tempo pra se arrepender.
          
          Ah! E quanto á pedra...

          A pedra, apesar de mineral, por vezes é mais exemplar que muitos homens, pois, partindo do princípio que uma pedra jamais fere alguém por vontade própria, muito homem se torna mais frio que a própria pedra...
Por isso, deixem “os pedras” onde estão, e façam do além silêncio, uma prece á eles; infelizmente, entre nós, habitantes deste plano, ainda existe quem não valha uma pedra; além do mais, pedra é parte do caminho.
                                             
                                                                        
Por esta luz que me guia...                                                                       
                                                                                       Zeca Alves.
                                                                     06 de abril de 2012 - Sexta-feira santa
                                                                           Fazenda Joaquim Oliveira.
                                                                             Rio Grande –TAIM-RS

domingo, 1 de abril de 2012

O Homem e o rio

Não guardo agruras nem rancores do passado,
nem faço versos estimando a solidão...
em cada lágrima transcende um sentimento,
do rio que corre entre o olhar e o coração.

Se cada homem traz um rio dentro de si,
tem o dever de cultivar seu próprio leito;
pois, no espelho das águas de nossos rios,
só se reflete aquilo que temos feito.

São rios que a seca não castiga ou prejudica.
São rios da alma, sem início, meio, ou fim...
e no silêncio onde visito meus "recuerdos",
eu mato a sede e encontro a paz dentro de mim.

Quem foi chibeiro e atravessou seu próprio rio,
buscando a paz, deixou pra trás sua inocência.
Contrabandeou inquietudes sem perceber...
e assim se fez aprisionado em sua ausência.

Mas quem se fez um pescador no próprio rio...
matou a fome e assim também matou a sede;
E pôde ver que o sentimento não tem preço,
e tem apreço ao se deixar levar por ele.

                                                     Zeca Alves.

Vivência

 
          O velho pegou a estrada por força das circunstâncias,
          Cruzou pra lá da cancela, foi dando espalda pra estância...
          O que nunca imaginava, bem por certo aconteceu,
          Bombeou o avesso de um mundo que nada tinha de seu.

           Seguiu num rumo de ida, em direção ao povoado,
           Levando a sabedoria e a experiência no costado;
           Depois de um tempo passado, o velho foi mais além...
           Por ter se tornado exemplo, pela vivência que tem.

           O moço assumiu o comando quando o pai se fez ausente,
           Na sucessão ilusória, por moço, ou inexperiente;
           Mas as rompantes da idade trouxeram aprendizados,
           No tempo exato em que o moço ignorou seu passado.

           Foi “piazito” calça curta que em sua infância estancieira
           Vivia junto do velho, taura na lida campeira.
           Nem parece que sabia com quem foi que ele aprendeu
           As voltas certas da lida, porque não reconheceu.

           O tempo trouxe as respostas, pro velho, e o moço também,
           Quando a estância pegou fama de não parar mais ninguém;
           Pois quando não se perdiam, por carreirada e fandango,
           A escassês de homem campeiro dava vez pra um maturrango.

           Das tantas e tantas voltas, das voltas que a vida faz,
           O moço um dia deu volta pensando em voltar atrás...
           E o velho sem fazer conta, mostrou ao moço também,
           O quanto vale o passado, pra quem sabe de onde vem.

                                                                                                 Zeca Alves.

sábado, 31 de março de 2012

NUMA DE CANHA


Seu mundo acabou inteiro
No interior de uma “botella”...
Por melhor que um trago seja
Não se deve o exagero;
Pouco importava o dinheiro
Da herança que sobrou-lhe
Porque a falta de controle
Era  maior que o desespero.

                       Com dois, ou três martelinhos
                       De primeiro se fartava,
                       Mas, conforme se esperava
                       Foi aumentando aos pouquinhos;
                       Seguiu num triste caminho,
                       Passou pro liso, e num canto,
                       Jogava um trago pro santo
                       E tomava o resto sozinho.

Quem lhe viu nos alvoroços
De ranchos e pulperias,
Jamais imaginaria
O destino daquele moço...
Depois de tanto retoço,
Por taura e namorador
Sofreu a falta de amor
E caiu no fundo do poço.

                  Quanta prenda cobiçava
                  Ir pra garupa do pingo?!
                  Nas carreiras de domingo
                  Toda vez que ele chegava;
                  Cambicho nunca faltava
                  Em se tratando de pecado,
                  E sendo do seu agrado
                  Prontamente carregava.

Levou a “coza” flauteada
Como todo índio gaudério;
Não queria nada sério,
Era um momento, e mais nada...
Doente por gauchada
Arranhava umas por farra
Na cordeona e na guitarra
De maneira improvisada.


                    Aprendeu meio de ouvido
                    Porque DEUS lhe deu o dom;
                    Todo mundo achava bom
                    E até dançava entretido...
                    Pois, era um toque sentido
                    Mesmo em segunda e primeira,
                    De um cantador de fronteira
                    Que não ficou conhecido.

Entre uma e outra vaneira...
Milonga, tango, valseado,
Rancheira e xote largado
De levantar polvadeira;
Muita chinoca solteira,
Por livre e desempedida
Acabou sendo iludida
E levada na brincadeira.

                Quem tanto faz, vai que esquece
                e uma hora o tempo cobra;
                Exemplo se tem de sobra,
                A existência oferece...
               E se a matéria padece
               Por falta de compaixão,
               Através da expiação
               Cada um tem o que merece.

                  E foi assim, neste embalo
                  De cantoria e festança,
                  Que desatou muita trança
                  Até “cair do cavalo”;
                  Mas a queda que lhes falo
                  Tem sentido figurado,
                  Que pra quem é rejeitado
                  O tombo vem de regalo.

Por umas quantas de lua,
E dizem que foram tantas...
Se amasiou com uma percanta
Que jurava ser só sua;
Era uma linda xirua,
Que tinha o contraveneno
Pra mostrar de um jeito pleno
A verdade nua e crua.

                     Deu chance para o descaso
                     Quando arrastava-lhe as asas,
                     E o coração pediu vaza
                     Como num simples ocaso...
                     Ao vencimento do prazo
                     Daquela grande paixão,
                     Provou a desilusão,
                     E nada foi por acaso.

“Quem te viu e quem te vê”...
Abrindo as portas pra dor,
Com mil promessas de amor
Fazendo as moças sofrer,
Jamais iria dizer
Que o dom Juan da campanha
Fosse entrar numa de canha
Por causa de um bem-querer.

                      E na tristeza incontida
                      Que a mágoa foi calibrando,
                      Ele acabou se enfrascando
                      Ao se atirar na bebida;
                      De forma até desmedida,
                      Por borracho teve a imagem
                      Que a garrafa é uma passagem
                      Pro outro lado da vida.  
                                     
                                                                       Zeca Alves.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Pelas frestas da infância

Matreiro, olhar desconfiado...
é claro! Criado "solito",
lembro daquele "piazito"
retouçando em frente as casas;
Ah! O tempo bateu asas,
pois andeja livremente,
e o cristãozinho inocente,
pelas frestas da infância
hoje bombeia a distância
entre passado e presente.

Num "trotezito" miúdo,
volta e meia disparava;
negaceando quem chegava
pra pedir pouso na estância...
pois, na minha ignorância,
pra dizer bem a verdade,
era tudo novidade,
mal conheci este mundo,
criado naqueles fundos,
aos dois, três anos de idade.

Pelechei, firmei o passo,
desmamado e "muy" arteiro;
da imaginação parceiro!
fazia sempre um joguete:
Frouxei muito cavalete
domando lá no galpão,
"os potro" eram magretão,
igual, levei muito tombo...
quando saltava no lombo
e as garras iam pra o chão.

"Taludito" e mais roceiro,
brincando sempre sozinho;
eu era mesmo daninho,
só aprontava escondido...
e pra escapar do castigo
toda vez que me pisava,
ressabiado, mal chorava,
sabendo que na cosinha,
mamãe tinha uma varinha
e volta e meia me pegava.

Retovado, caborteiro
e com gana de ser pachola,
ganhei um laço de piola
e só pra não perder o embalo...
podendo, botava um pealo
num cordeirinho baldoso,
desses, "guachito" mimoso,
que vivia me amolando;
mas se alguém tivesse olhando
eu era muito carinhoso.

Ah! o tempo bateu asas!
Mais uns anos se passaram,
meus "curnilhos" despontaram,
fui largando as brincadeiras,
saindo pra abrir porteiras
e conhecendo a volteada,
"sombrero" de aba tapeada
pra ver tudo direitinho...
sobre "as cruz" de um peticinho,
igual a mim, pata pelada!

Rapazote, carrancudo,
peguei gosto pelo serviço...
Joguetes viraram ofício,
me tornara indio campeiro:
Peão, domador, tropeiro,
virei pau pra toda obra,
sou taura que se desdobra
e sempre de cabeça erguida...
pois, me criei nessa lida,
conhecimento me sobra.

Certa vez, cruzando estrada,
na janela de um "ranchito"...
vi dois olhos tão bonitos
que até sujeitei meu pingo;
a "flor" continuou sorrindo,
e já me apresentei também...
Até hoje ela me tem,
é a dona dos meus carinhos,
pois quem se cria sozinho
não quer viver sem ninguém.

E pelas mãos do destino
vejo o tempo soberano,
refletir num sobreano
que "retóça" em frente as casa's...
Ah! O tempo bateu asas;
meu filho encurta a distância,
e brincando em frente a estância
sem querer ainda consegue,
fazer que seu pai se enxergue
pelas frestas da infância.

                                       Zeca Alves.