Seu mundo acabou inteiro
No interior de uma “botella”...
Por melhor que um trago seja
Não se deve o exagero;
Pouco importava o dinheiro
Da herança que sobrou-lhe
Porque a falta de controle
Era maior que o desespero.
Com dois, ou três martelinhos
De primeiro se fartava,
Mas, conforme se esperava
Foi aumentando aos pouquinhos;
Seguiu num triste caminho,
Passou pro liso, e num canto,
Jogava um trago pro santo
E tomava o resto sozinho.
Quem lhe viu nos alvoroços
De ranchos e pulperias,
Jamais imaginaria
O destino daquele moço...
Depois de tanto retoço,
Por taura e namorador
Sofreu a falta de amor
E caiu no fundo do poço.
Quanta prenda cobiçava
Ir pra garupa do pingo?!
Nas carreiras de domingo
Toda vez que ele chegava;
Cambicho nunca faltava
Em se tratando de pecado,
E sendo do seu agrado
Prontamente carregava.
Levou a “coza” flauteada
Como todo índio gaudério;
Não queria nada sério,
Era um momento, e mais nada...
Doente por gauchada
Arranhava umas por farra
Na cordeona e na guitarra
De maneira improvisada.
Aprendeu meio de ouvido
Porque DEUS lhe deu o dom;
Todo mundo achava bom
E até dançava entretido...
Pois, era um toque sentido
Mesmo em segunda e primeira,
De um cantador de fronteira
Que não ficou conhecido.
Entre uma e outra vaneira...
Milonga, tango, valseado,
Rancheira e xote largado
De levantar polvadeira;
Muita chinoca solteira,
Por livre e desempedida
Acabou sendo iludida
E levada na brincadeira.
Quem tanto faz, vai que esquece
e uma hora o tempo cobra;
Exemplo se tem de sobra,
A existência oferece...
E se a matéria padece
Por falta de compaixão,
Através da expiação
Cada um tem o que merece.
E foi assim, neste embalo
De cantoria e festança,
Que desatou muita trança
Até “cair do cavalo”;
Mas a queda que lhes falo
Tem sentido figurado,
Que pra quem é rejeitado
O tombo vem de regalo.
Por umas quantas de lua,
E dizem que foram tantas...
Se amasiou com uma percanta
Que jurava ser só sua;
Era uma linda xirua,
Que tinha o contraveneno
Pra mostrar de um jeito pleno
A verdade nua e crua.
Deu chance para o descaso
Quando arrastava-lhe as asas,
E o coração pediu vaza
Como num simples ocaso...
Ao vencimento do prazo
Daquela grande paixão,
Provou a desilusão,
E nada foi por acaso.
“Quem te viu e quem te vê”...
Abrindo as portas pra dor,
Com mil promessas de amor
Fazendo as moças sofrer,
Jamais iria dizer
Que o dom Juan da campanha
Fosse entrar numa de canha
Por causa de um bem-querer.
E na tristeza incontida
Que a mágoa foi calibrando,
Ele acabou se enfrascando
Ao se atirar na bebida;
De forma até desmedida,
Por borracho teve a imagem
Que a garrafa é uma passagem
Pro outro lado da vida.
Zeca Alves.
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