Matreiro, olhar desconfiado...
é claro! Criado "solito",
lembro daquele "piazito"
retouçando em frente as casas;
Ah! O tempo bateu asas,
pois andeja livremente,
e o cristãozinho inocente,
pelas frestas da infância
hoje bombeia a distância
entre passado e presente.
Num "trotezito" miúdo,
volta e meia disparava;
negaceando quem chegava
pra pedir pouso na estância...
pois, na minha ignorância,
pra dizer bem a verdade,
era tudo novidade,
mal conheci este mundo,
criado naqueles fundos,
aos dois, três anos de idade.
Pelechei, firmei o passo,
desmamado e "muy" arteiro;
da imaginação parceiro!
fazia sempre um joguete:
Frouxei muito cavalete
domando lá no galpão,
"os potro" eram magretão,
igual, levei muito tombo...
quando saltava no lombo
e as garras iam pra o chão.
"Taludito" e mais roceiro,
brincando sempre sozinho;
eu era mesmo daninho,
só aprontava escondido...
e pra escapar do castigo
toda vez que me pisava,
ressabiado, mal chorava,
sabendo que na cosinha,
mamãe tinha uma varinha
e volta e meia me pegava.
Retovado, caborteiro
e com gana de ser pachola,
ganhei um laço de piola
e só pra não perder o embalo...
podendo, botava um pealo
num cordeirinho baldoso,
desses, "guachito" mimoso,
que vivia me amolando;
mas se alguém tivesse olhando
eu era muito carinhoso.
Ah! o tempo bateu asas!
Mais uns anos se passaram,
meus "curnilhos" despontaram,
fui largando as brincadeiras,
saindo pra abrir porteiras
e conhecendo a volteada,
"sombrero" de aba tapeada
pra ver tudo direitinho...
sobre "as cruz" de um peticinho,
igual a mim, pata pelada!
Rapazote, carrancudo,
peguei gosto pelo serviço...
Joguetes viraram ofício,
me tornara indio campeiro:
Peão, domador, tropeiro,
virei pau pra toda obra,
sou taura que se desdobra
e sempre de cabeça erguida...
pois, me criei nessa lida,
conhecimento me sobra.
Certa vez, cruzando estrada,
na janela de um "ranchito"...
vi dois olhos tão bonitos
que até sujeitei meu pingo;
a "flor" continuou sorrindo,
e já me apresentei também...
Até hoje ela me tem,
é a dona dos meus carinhos,
pois quem se cria sozinho
não quer viver sem ninguém.
E pelas mãos do destino
vejo o tempo soberano,
refletir num sobreano
que "retóça" em frente as casa's...
Ah! O tempo bateu asas;
meu filho encurta a distância,
e brincando em frente a estância
sem querer ainda consegue,
fazer que seu pai se enxergue
pelas frestas da infância.
Zeca Alves.
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