sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

ROMANCE DO ANDARILHO... (Primeira passagem)




  3º capítulo


     Na volta do meio dia, sol a pino castigando o feltro da boina velha surrada, o chão de terra mais quente que de costume, e mais ou menos légua e pico de distância para chegar n’outra estância; mirando “lejos” vinha o andarilho estrada afora, quando de repente parou na sombra de um “caponete” de móleos que brotou em meio ás pedras para um breve descanso;  por instantes o pensamento lhe pôs a refletir sobre a vida, rever o caminho e dividir as lonjuras... olhar disperso, cabeça baixa e uma grama forquilha pra mascar o talo enquanto ruminava alguns “recuerdos”.
       Lembrou de certa feita, quando vinha mais ou menos por aquelas bandas e cruzou por ele um -“índio” carrancudo-,  que vinha firme no más “sentadito” sobre os arreios que ringiam basteira e carona contra um xergão cardado que forrava o lombo de um tordilho vinagre entroncado, que já andava se apalpando, estropiado de pisar as pedras, e acovardado pela judiaria; pois sabe-se lá quanto terreno já havia despachado, e o quanto ainda teria pra despachar até chegar ao destino.Certamente que não haviam as mínimas condições de seguir adiante com aquele animal naquele estado. Mas, como toda ação tem uma reação, não poderia ter sido tão diferente; Tão logo o  -“ índio” carrancudo -  lhe “saludou”, não deu nem cem metros e o tordilho já estava por se entregar , tamanha era a dor que sentia; tanto foi que, num laçasso, destes de riscar o couro, o tal carrancudo assinalou a própria sentença; Dalí pra frente teria de andar com os próprios pés, tal e qual o andarilho. Desencilhou, largou o tordilho que já cansado e dolorido sequer rebolcou-se nos pastos, foi uma sacudida ligeira pra arrepiar o pêlo e deitou-se por conta da dor, para aliviar os cascos; enquanto isso, o tal –“índio”- carrancudo ao emalar os arreios, de vereda se deu conta do quanto lhe custaria aquela atitude impensada, mas, como pra tudo na vida há uma explicação, o andarilho aproximou-se e lhe ofereceu ajuda para que carregassem os arreios entre os dois, dividindo o peso até encontrar um lugar para deixá-los e quem sabe recompor-se da estrada e redimir-se dos erros; aos poucos foram cruzando e deixando pra trás aquela légua e pico que faltava até outra estância. Enfim, chegaram por lá, já era meia tarde, o andarilho calejado chegou tranqüilo; já o -“índio” carrancudo - chegou do avesso,porque a fome lhe repuxava a barriga, e os pés latejavam tanto quanto os cascos do cavalo que ele havia judiado.
         

Um comentário:

  1. É isso aí Zeca. Parabéns pela iniciativa, teu texto prende o leitor e deixa a expectativa do próximo capítulo. Tamo no eito. Abraço!

    ResponderExcluir