quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

ROMANCE DO ANDARILHO... (Primeira passagem)

 

                                                        13º Capítulo



      A cerca de mais ou menos dois dias, o andarilho vinha dormindo pelas taperas e enganando a fome com pitangas, laranjas, bergamotas, enfim... Se rebuscando conforme a volta.
      Foi numa dessas taperas que, bombeando o céu estrelado, lua em quarto crescente, de repente o andarilho ouviu de muito longe um bater de cascos, que mais parecia uma “escramuça” ligeira, como se alguém estivesse peleando bem montado, ou até mesmo um galope em desatino para entregar um chasque sabe-se lá de onde, nem pra quem. Aos poucos o turumbamba de patas foi “mermando” e se aproximando na cadência de um tranco largo que parecia cada vez mais perto; ao erguer-se do chão onde estava acomodado pra passar a noite, o andarilho, já desconfiado estendeu a mirada ao longo do campo largo, por debaixo do arvoredo, mas, inconformado campeou na volta da tapera pra ver se avistava quem estava se achegando, ou seu era alguém que andava caçando nos arredores, o fato é que queria ter certeza de que movimento seria aquele.
Pois bem, ouviu-se no fundo daquela noite um eco que vinha de longe,ganhando os ares da fronteira num sapucai desdobrado, tal como faziam os sentinelas nas margens do rio Uruguai, contraponteando o silêncio; pra o andarilho aquilo serviu como um chamado.
Deu de mão na mala de garupa e num “ponchezito” velho surrado que lhe servia de abrigo nos rigores do inverno, e saiu no rumo daquele eco que ganhava os ares da querência, campo afora, noite adentro. Agora, era um passo e mais outro, querendo enxergar ao menos a silhueta que produzia toda aquela sonoridade, como num escarcéu dos tempos de guerra.
        Andou por léguas e mais léguas, e quanto mais se aproximava, mais parecia ter que andar, a madrugada foi se estendendo, os quero-queros alardeavam a cruzada do andarilho pelo ermo dos descampados; a cachorrada latia e uivava como a enxergar além daqui, do outro lado da vida. Bem no fim, o andarilho se deixando levar pela ânsia de encontrar alguém que talvez por bem montado lhe fizesse caminhar um tanto além de onde estava, foi pego pelo cansaço; foi quando resolveu parar n’outra tapera, distante daquela onde começou a ouvir as “escramuças”. O corpo já mais cansado que o de costume pedia vaza pro descanso. Voltou a se acomodar num lugar mais abrigado, e no meio da oração costumeira o sono lhe pegou de jeito. Vieram os sonhos...
        Apresentou-se pro andarilho, um índio charrua que montava de em pêlo, um cavalo tobiano salgo ainda bruto de rédea, porém, manso de lombo como ele só; lhe estendeu a mão “saludando” em seu idioma indígena, e lhe apontou na direção de um cerro, dando a entender que por lá havia um enterro de dinheiro.
        Ainda confuso, sem saber se aquilo era um sonho ou um desdobramento, o andarilho ferrou enfim no sono, corpo e alma caíram no poço fundo do descanso. Restavam apenas alguns instantes de sossego, já que passou quase toda a madrugada em volta com seus mistérios; no romper da madrugada, o sol foi aos poucos destapando a silhuetas que se estendiam no sem fim do horizonte, quando bateu na cara do andarilho foi como se DEUS lhe botasse a mão no rosto e dissesse:
            -“Acorda meu filho, pega teu rumo e vai pela vida, pra um dia quem sabe encontrar as respostas de tudo aquilo que ainda não conseguistes entender.”
       Foi quando então, mais uma vez, o andarilho botou os ossos de ponta, descansou a mala de garupa sobre o ombro, e de novo seguiu a andar caminhos.

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