Crônica do homem campeiro
Cada homem do campo carrega no peito um troféu de guerra, daquele que venceu na vida, e que sabe que percorreu lonjuras pra chegar onde chegou, acima de tudo, sabe que seguiu o caminho do bem e encontrou a paz que precisava em coisas muitas vezes não valorizadas pelos demais, como a família, os amigos, um rancho simples e um mate amargo.
Na família esse homem encontra o escudo do amor, pois na sua patroa ele tem toda a segurança e carinho que precisa pra seguir em frente, e nos passitos ainda curtos de seu piá, ele percebe a semelhança que se passa de pai pra filho e com orgulho lhe dá conselhos de quem sabe o que diz. Nos amigos, ele tem parceiros de valia para as peleias da vida, e aprende a reconhecer que não tem preço ter amigos com lealdade no coração.
No rancho simples, o homem do campo entende que não precisa de muito pra viver, pois é no seu ranchito que ele tem o sossego que só a campanha lhe oferece, e olhando da sua janela, ele enxerga a pintura que Deus lhe deu, percebendo a beleza que o campo tem.
No mate amargo que ceva de tardezita, esse homem desvenda sua essência, proseia com suas inquietudes, e em um momento sensitivo, tem a certeza que nunca estará sozinho, assim, nessa paz que se fez morada ele compõe versos de fundamento, que retratam a rotina do verdadeiro homem do campo, revelando seus sonhos madrugueiros, e colocando no papel a sua vida pura e simples.
A escuridão ainda nem se foi e ele já encilha seu cavalo, seu velho e bueno amigo, e lá se vai com o coração na espora, percorrendo mais um dia de lida e a manhãzita se espicha nas patas de seu cavalo. O campo se torna pequeno para os anseios desse homem, que possui uma sensibilidade singular, trazendo consigo a coragem de um campeiro, e que na garupa carrega tudo que precisa.
O cusco, também não abandona o homem do campo, lhe acompanha pelas volteadas do dia, e faz costado pra não deixar aquele potro matreiro se distanciar da tropilha. E é na vivência diária que esse homem percorre a faculdade da vida, e em suas veias correm um sangue de valor e sabedoria.
O sol devagarzito se amansa e num assobio compassado, o campeiro desencilha seu parceiro, e ao longe avista seu guri que vem em sua direção pra contar todo faceiro como foi seu dia, e nos braços do pai, o piá se olha no espelho. É nesta hora, quando tudo silencia, que o homem escuta a voz da plenitude, pois só no campo ele semeia a paz tão sonhada, e nos olhos sinceros de seu cavalo crioulo ele enxerga que essa foi a vida que ele sempre quis.
Dedico essas palavras a todos os homens do campo, que com lealdade galopam seus dias, mas especialmente a Zeca Alves, um artista de mão cheia que conquistou um público fiel e que reconhece todo seu talento, público este, que lhe deu o prêmio de melhor compositor na 29ª Gauderiada da Canção Gaúcha de 2011, com a letra de “Alguém mateia comigo”, na qual busquei inspiração para escrever esta crônica. Um abraço. Lidiana Betega, Cacequi RS.
Lindas palavras da Lidiana e merecidamente oferecidas a ti Zeca. Um grande beijo nesta familia que eu adoro e um abraço daqueles que só o Candoca sabe dar. Hasta siempre.
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