segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

ROMANCE DO ANDARILHO... (Primeira passagem)


                                                     17º Capítulo



            Depois de testemunhar o fato de o andarilho trazer a recolhida montando um tobiano “veiaco” que parecia ter se entregado meio que por encanto, os rapazinhos que estavam de férias na estância grande, pareciam não acreditar no que acabavam de presenciar; então começaram as dúvidas.
            -Será que nos enganamos? Disse um deles.
            -Devemos ter nos confundido e pegado o sogueiro. Disse o outro.
            -Só tem um jeito de sabermos o que houve; tive uma idéia... Disse o terceiro, que era exatamente o que conhecia os cavalos da estância.
Vamos pedir ao andarilho que deixe o cavalo enfrenado e um de nós se enforquilha, caso seja o sogueiro fica tudo explicado.
Foi quando pelas rompantes de moço inexperiente um deles saltou na frente se prontificando pra montar, exatamente o que havia inventado aquele brinquedo de mau gosto que acabou dando errado. Era um rapaz  muito “bueno”, desses que cismam em se tornar um índio ginete, porém nem sempre as coisas são como a gente quer. Bueno... Se foram na direção do andarilho que já estava levando a mão na cabeçada para largar o tobiano. O rapazinho com cismas de ginete lhe pediu o tobiano emprestado, dando a desculpa de ir até o açude da frente da estância para revisar umas linhas que tinham deixado por lá pra pegar umas traíras. O andarilho então alcançou-lhe as rédeas e perguntou se ele queria a varinha pra andar a cavalo, como se não soubesse que o tobiano não carregaria o rapaz; pois bem, já no levar a mão e pegar firme nas crinas do pega-mão (cernelha) para alçar a perna, o tobiano deu uma ronco e uma sonada na venta que mais parecia um  dia de tempo feio, mas para não passar por “cagão” na frente de seus amigos, e para não dizerem que ele estava “afrouxando a mascada”, impulsionou o corpo “livianito” e de vereda confirmou que aquele era um dos tobianos aporreados sim senhor.
           Mal teve tempo de sentar a bunda sobre o fio do lombo do cavalo e o animal já caiu dobrado; foram dois,três pulos agarrado meio no susto, e por pouco o cavalo não lhe matou o “bicho do ouvido”, lhe atirou de todo comprimento no chão, pelo correr da paleta. Foi quando ao provar do próprio veneno, o rapaz levantou-se com suas rompantes e olhou para seus amigos que davam risadas de doer a barriga, lhe deixando ainda mais sem jeito; então resolveu pedir ao andarilho, que ficou olhando o movimento retirado num canto, para que montasse de novo. Na sua cabeça era impossível o que tinha acontecido, como um homem iria dominar um animal daquela maneira, sendo que um aporreado, por ser aporreado não foge ao instinto. O andarilho então pediu aos rapazes que se retirassem meio pra longe; foi atendido.
          Fez exatamente o que havia feito da outra vez; passou-lhe a mão sobre as crinas, deu-lhe um afago na tábua do pescoço, sussurrou uma espécie de oração, saltou de barriga e depois cruzou a perna pro outro lado e saiu ao tranco andando pelo potreiro. Resultou que a gurizada ficou de queixo caído, não falavam em outra coisa, a não ser no fato que estavam testemunhando; desistiram de sair á cavalo para ficar na volta do andarilho e tentar descobrir seus segredos. Passou a manhã. Churrasquearam em ponto de meio dia. Veio a tarde que aos poucos foi se apagando. O capataz e a peonada foram chegando de volta, pois segunda-feira bem sabiam que tinha lida “cedito no más”. O andarilho que ainda estava por lá mateava tranqüilo olhando a vida de longe, “saludou” a todos, que inclusive já lhe conheciam, só não sabiam de suas aptidões.
          Quando todos sentaram a beira do fogo, no galpão grande, conversa vai, conversa vem, o rapaz que levou seus amigos para passar as férias na estância fez ao capataz o relato do que tinham tido oportunidade de presenciar. Mais uma vez a veracidade dos fatos foi posta em dúvida, porque o capataz descrente que aquela história pudesse ser um fato, ainda disse, como a fazer pouco do que tinha escutado da boca do rapaz, e subestimando a fé do andarilho :
         -Amanhã se vocês quiserem tiramos esta história a limpo. Disse ele; que aproveitando o embalo deu ordem ao semaneiro para deixar seus tobianos já embuçalados na segunda-feira, de manhã cedo. 

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