sábado, 7 de maio de 2011

Partida, ausência e saudade





A Flor encilhou ausência vendo o mundo da janela,
Aquerenciou seu olhar, na imagem da cancela;
O domador, por ofício, guiando seu próprio tino,
Levou saudades de tiro, palmilhando seu destino.

    Numa “coplita” extraviada, a estrada botou sentido,
     E acolherou sentimentos, firmando ao nó no vestido;
      Um rancho, dois corações, e o horizonte estendido,
     Se tornaram esperanças, após o mate do estribo.

-Quem nunca encilhou ausência num mate madrugador?
-Quem nunca levou saudade de tiro no corredor?

        Reculutando o sustento, sem alentos pra distância,
        O tempo fazia escolta, domando potros, de estâncias;
      Ao encilhar um reiúno, no destino de quem doma,
     Levou saudades de tiro, nos ringidos da carona.

Uma lágrima, no rosto, regava o sonho da flor,
Que, na imagem da partida refletia um grande amor...
Na incerteza do destino, DEUS levou o domador,
Desde então, encilha ausência, num mate madrugador.
                                                                
                                                              Zeca Alves.

Estronca





Na cabeceira se encontra
A estronca bem falquejada,
Pra garantia “dos pila”
No serviço de empreitada,
Firmando junto ao rabicho
As “sete corda espichada”.


                              “Ta” no tenteio do arame
                                A manha do alambrador,
                                Que vai “baxando as paleta”
                                Judiado do socador...
                                E traz as mãos calejadas,
                                Templado a frio e calor.


No rigor das estações
As cercas vão se estendendo,
No inverno, a geada castiga,
No verão, o sol, ardendo;
Cem metros feitos por dia,
Serviço bruto rendendo.


                            Em cada vão dos “moirões”
                            Cinco tramas atilhadas,
                            Arame liso e farpado
                            Na divisão de invernadas,
                            Capricho, visto de longe
                            Na cerca bem alinhada.


O principal nisso tudo,
 Muitos custam “a se dar conta”,
Traz madrugadas consigo,
Trabalha de ponta a ponta;
Escorando a lida bruta
O alambrador é uma estronca.

                                                           Zeca Alves.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Passando um tento

                             

Deitado na porta de um rancho estancieiro
Um cachorro ovelheiro, espreguiça, com sono;
O tempo que passa, ajustou de caseiros
Em outra estância, o Coleira e seu dono.

 Na sombra espichada, beirando a cozinha,
 Boceja e se aninha, encostado na bota
 De quem por vaqueano enxergou que a velhice
 Traria outro encargo, e o serviço de volta.

Não sai mais pro campo na sombra do pingo,
Nem quando um campeiro, assoviando convida...
Empurra a cuscada mais nova e retorna
Que o tempo lhe cobra os trompassos da vida.

O tento ficou bem passado na trança
 Das braças de um laço chamado amizade,
 Que livra os tirões e se estende por conta,
 Firmando na cincha o peso da idade.

Quem, de outro serviço, largou-lhes por velhos,
As vezes visita pra ver como estão,
Então o Coleira o recebe com festa,
E faz da humildade uma grande lição.

 Assim o cachorro Coleira e seu dono
 Estão n’outra estância, e até mais feliz...
 Se medem palavras em tom de respeito,
 Sinal de quem pensa naquilo que diz.

                                                               Zeca Alves & Fabio Prates.