quarta-feira, 2 de março de 2011

ROMANCE DO ANDARILHO... (Primeira passagem)


25º Capítulo



No mesmo tranco que outrora o tordilho despachava de a cabresto, o andarilho cruzava bem montado por um “ranchito” de arrabalde, quando avistou nos fundos do pátio um “home véio” lamentando o estado em que se encontrava o seu cavalo da carroça, que por estar velho e judiado já não tinha mais condições de puxar a carroça e garantir assim, o pouco que conseguia pôr pra dentro de casa pra repartir com a família.
Ao bancar o tordilho na rédea, o andarilho, assim feito quem não quer nada, apeou e bateu palmas em frente ao “ranchito”... De pronto o “home véio” saiu lá na frente pra ver quem era, e do que se tratava.
“Buenas tardes”! Disse o andarilho.
“Buenas! Lhe respondeu o homem.
“Sim senhor!No que posso ajudar “índio véio”? Perguntou ao andarilho, que de pronto lhe pediu um pouco d’água pra matar a sede.
Quando o homem veio de volta com a água, o andarilho já esperava com prosa pra mais de hora. E assim foram, indaga daqui, indaga dali; falaram de tudo um pouco. Cada um contou um pouco de sua história até que lá pelas tantas, o “home véio” pegou a lamentar-se sobre a situação em que se encontrava o seu cavalo velho, que já nem pastava mais direito por conseqüência da idade; lembrou das tantas vezes que garantiu o pão na mesa graças ao cavalo “véio” da carroça; lembrou também das gauchadas que fazia campo afora, antes de ir parar naquele arrabalde onde se encontrava á um bom tempo já, por força das circunstâncias. Foi quando o andarilho ficou a par da situação toda.
Aquele homem que ali se encontrava, era mais um dos tantos campeiros que sonham ir pra cidade pra que os filhos possam estudar e ter uma vida melhor. Na época em que ele e a esposa pediram as contas na estância tudo era mais fácil, pois como tinha sido tropeiro por muito tempo e era bem conhecido arrumou serviço nos remates de gado que aconteciam semanalmente no parque do sindicato rural, mas, infelizmente no decorrer do tempo as coisas foram mudando, os negócios já não rendiam mais o tanto que outrora rendiam (no tempo da vaca gorda); foi caindo o movimento, já não havia como pagar o trabalho de tanta gente nas mangueiras; “despacito” foram diminuindo os companheiros naquele serviço até que chegou sua vez de ser despachado.
Por conhecedor do serviço se fez changueiro, esquilador, alambrador, peão por dia, e volta e meia fazia alguma corda meio grosseira pra defender uns pilas. E novamente os atropelos do tempo foram inevitáveis, as changas escassearam, as esquilas ainda rendiam uns pilas, porém uns pilas curtos, porque o preço da lã sofria uma queda atrás da outra desvalorizando também a mão de obra dos esquiladores; vez por outra aparecia algum serviço de cerca, mas como não se pode contar com a sorte pra dar de comer aos filhos, sua última saída foi amansar um cavalo de carroça pra se defender fazendo fretes, juntando papelão, tenteando ganhar a vida. Ao longo dos anos o cansaço foi vencendo seu parceiro de andanças (o cavalo), que foi aos poucos descarnando, perdendo as forças.
Bueno... bem no fim da conversa, o andarilho, por sua vez, lhe perguntou o que faria se de repente surgisse alguém que estivesse disposto a lhe ajudar lhe dando outro cavalo para que na medida do possível conseguisse garantir o pão na mesa? Foi quando ouviu da boca do “home véio” que primeiramente ele agradeceria a DEUS, por enviar uma pessoa tão especial pra lhe ajudar a amenizar as penas naquele momento tão árduo pra ele, por ver que as possibilidades de conseguir o mínimo possível pra que sua família não passasse fome estavam cada vez menores. Então o andarilho tirou os arreios do lombo do tordilho velho entroncado e disse ao homem:

“Então agradeça “ermão”, porque nada é por acaso, e creio que foi ele quem me guiou até aqui; bem por isso eu vinha passando na mesma hora em que tu te lamentavas; foi quando parei pra pedir água e mesmo assim, num momento difícil, não me negastes, me estendeste a mão mostrando nobreza espiritual.”

Estendeu a mão direita que agarrava firme o cabresto e lhe alcançou o cavalo que agora se tornara bem mais que um regalo, pois representava um recomeço, um resgate da esperança que parecia já extinguida naquele “ranchito” de arrabalde.

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