quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

ROMANCE DO ANDARILHO... (Primeira passagem)



23º Capítulo


Chegava o final de um domingo bueno para a família do chacreiro, principalmente pra os netos; entrava a boca da noite quando a mãe das crianças deu ordem para que apeassem do cavalo para se despedir de seu avô e do andarilho; muito contrariados com a idéia de ter que ir embora acataram as ordens da mãe. Com o cavalo pela rédea uma das crianças foi na direção do andarilho para entregá-lo, deu-lhe um abraço apertado desses que bem se vê que é um gesto de gratidão, e lhe alcançou o cavalo, depois saiu em direção ao seu avô para dar-lhe um abraço tão apertado quanto o que havia dado no andarilho.Se despediram. Agora tudo voltava ao normal na chácara novamente. Calmaria, recuerdos e os som da natureza ao de redor daquele rincão; o andarilho cruzou a cancela do potreiro que lhe foi cedido para soltar o cavalo, tirou-lhe o freio, deu-lhe um afago na tábua do pescoço e voltou pro galpão onde estavam a sua mala de garupa e o solitário aposentado, que por sua vez, lhe olhava com outros olhos, já não conseguia mais enxergar o andarilho como se fosse simplesmente um desgarrado, pobre coitado e sem rumo certo; passou a enxergar no andarilho um ser humilde, sábio e de bom coração.
No outro dia bem cedo o andarilho estaria de partida, iria seguir o caminho que somente DEUS saberia ao certo ao que o levaria de encontro.
Quando sentaram-se novamente para prosear e olhar a vida de longe, o chacreiro perguntou ao andarilho quais eram seus planos; foi quando o andarilho lhe disse que iria descansar mais um pouco e que na madrugada seguinte pegaria seus cavalos, e ainda “tempranito” voltaria a botar a vida na estrada. Bueno... num “saludo” e “buenas noites” se foi ao catre.
O chacreiro retirou-se e foi no rumo do seu rancho onde também descansaria, para no outro dia seguir sua rotina . Deitou-se, as horas passavam, o sono andava disperso e parecia não chegar de jeito nenhum; aos poucos o pensamento lhe transportou de volta ao dia em que o andarilho chegou para pedir pousada, era uma espécie de regressão, passava um filme na cabeça do proprietário da chácara. Mais tarde quando menos esperava o sono veio, dormiu pra lá do meio da madrugada, e neste meio tempo já bastou pra que mudasse seu ponto de vista sobre as coisas; foram só duas ou três horas de sono e o dia vinha clareando.
Levantou-se, lavou a cara e saiu a passos largos na direção do galpão, para matear com o andarilho; chegando lá encontrou a cuia e a cambona recostadas, quando olhou pra o lado de fora para ver onde se encontrava o andarilho, avistou por debaixo do arvoredo um dos cavalos encilhados, e o outro com o cabresto passado num galho de uma laranjeira, sinal que o andarilho já estava pronto pra seguir rumando caminhos. Prendeu-lhe o grito para chamá-lo pra perto, e nada de o andarilho atender, pois no lugar onde se encontrava não escutava nada, estava lá no fundo do potreiro tentando pegar o cavalo velho que o chacreiro tinha deixado solto ao descaso. Quando conseguiu embuçalar, de pronto ergueu a mão do cavalo que visivelmente tinha sido a do casco que se quebrou contra uma pedra, estava com a rachadura do quebrado quase fechada, não fosse o descaso já estaria curado á tempos, pois só não estava cem por cento porque sem aparar o casco, conforme crescia, mais forçava, e abria novamente. O andarilho levou o animal até a sombra, deu de mão num facão e num macete para aparar-lhe os cascos; nisso, o chacreiro aproximou-se, deu-lhe um “buenos dias” e já envergonhado se ofereceu para ajudá-lo; sem demora e sem pensar duas vezes o andarilho lhe agradeceu e disse que não se preocupasse, que estava acostumado a lidar solito, e que na verdade quem estava precisando de ajuda era o cavalo velho, não ele.
O andarilho após fazer o que devia ser feito, atou o cavalo do chacreiro numa sombra e foi despedir-se e agradecer por tudo, pela hospitaldade, “bóia”, pouso, enfim...
Neste exato instante o chacreiro lhe perguntou quanto queria pelo cavalo velho que levava de tiro, pois aquele cavalo antes desprezado por ele, agora era o cavalo que havia garantido a felicidade de seus netos no último domingo.
Foi quando ouviu da boca do andarilho que:

“Um cavalo que vai pelo cabresto, não por ser um cavalo velho, mas por merecer uma atenção maior, não tem preço, cuidar um animal assim, é como cuidar de si mesmo, pois nessa vida o homem adquire nada mais, nada menos que o valor que ele mesmo dá ao que tem ao seu redor e que DEUS lhe proporciona.”

Um comentário:

  1. Gracias! e Glória a DEUS pelo que , nas entrelinhas, tu deixa dito... Conforta saber que a gente não tá sozinho no que se acredita, no que se carrega entre valores e princípios!

    Gostei! Que Deus conserve em ti essa simplicidade e a humildade..

    FEITO!

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