quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
ROMANCE DO ANDARILHO... (Primeira passagem)
22º Capítulo
Madrugada de céu estrelado, o andarilho por costume saltou “cedito”, principiou o fogo, sevou um mate a capricho, e ficou no aguardo do chacreiro pra comungar de um mate “bueno”. Era feriado, naquele dia viriam os filhos e netos do velho passar o final de semana na campanha. Quando os ponteiros de um relógio de parede marcaram seis horas em ponto que ele se arrimou ao galpão pra tomar uns mates antes de ir tirar leite.
“Buenos dias seu”! “Saludou” o andarilho eufórico, bem se viu que estava faceiro, mas até então o andarilho não estava sabendo que o aposentado solitário receberia visitas, nem tampouco que este era o motivo de todo aquele entusiasmo.
De qualquer forma, o andarilho sempre muito discreto seguiu como se não tivesse percebido a euforia; depois de uns mates, ao velho e bom estilo dos homens gratos, fez questão de tirar leite, e ajudar o chacreiro nas tarefas da “manhãnita”. Lá pelas tantas o homem lhe disse que estava muito contente, porque seus filhos e netos estavam por chegar da cidade pra passar o final de semana com ele, e bem “despacito” começou a contar um pouco da sua história ao andarilho que ouvia tudo com atenção. Lhe contou de quando resolveu ficar “solito no más” ali por aquele rincão, onde encontrava a paz necessária para sua sobrevivência muito embora a distância física de sua família lhe cobrasse o preço. De repente, buscando a volta do assunto, o andarilho começou a fazer comparações para falar no cavalo velho que pegou pra dar uma atençãozinha, e foi bem desse jeito que o chacreiro respondeu:
-Tá certo; mas não se compara um animal á um ser humano. Disse ele.
E mais que depressa ouviu o andarilho lhe dar outra resposta.
- Não é o fato de ser um animal e um ser humano, seu! O fato é que não se condena qualquer que seja pela idade que soma; pois cada um tem seus méritos. Disse o andarilho.
Bueno... ao aprontarem a lida da “manhãnita” deram meia volta e seguiram em direção ao galpão, o chacreiro ainda cismado com a história do cavalo velho, vez por outra largava uma “peruada” se referindo ao animal como matungo “véio”. Lá pelas tantas chegaram as visitas esperadas.
O chacreiro recebeu sua família num largo abraço apertado, feito quem sabe bem o que é viver “solito”, e mesmo que por alguns instantes tem a atenção de alguém para lhe confortar com carinho. O andarilho, por discreto se retirou pra um lado, e por ali ficou até que lhe chamassem na volta do meio dia para almoçar. Na hora da “bóia” surgiu outro assunto. A filha do chacreiro pergunto-lhe se tinha algum cavalo manso pra que as crianças pudessem andar mais a tardinha. De pronto ouviu seu pai dizer que não, ainda justificou que seu cavalo velho tinha quebrado o casco ao pisar de mal jeito numa pedra quando vinha do bolicho na direção do rancho; disse também que havia posto um remédio e largado pra o potreiro fazia alguns dias e não teria pego mais nem pra revisar o machucado, mas que bem notava de longe que o animal ainda mancava. Não se sabe porque razão o homem fazia tão pouco caso do cavalo velho que tanto lhe carregou de um lado pra outro. Nestas horas que se vê o quanto DEUS vigia e se encarrega de ensinar aos homens de um jeito, ou de outro.
O andarilho ergueu-se da cadeira onde havia sentado para almoçar e disse á moça que resolveria o problema, e para a alegria das crianças disse que encilharia um cavalo velho de toda confiança logo á tardinha pra que elas andassem. Veio a tardinha. O andarilho saiu no rumo do potreiro com um buçal na mão e trouxe o tordilho entroncado para que as crianças andassem. Apertou-lhe a cincha, ajudou as crianças que não cabiam em si de tanta alegria a montarem e sentou-se lá pra um lado par observar as reações.
Ao ver a alegria dos netos o chacreiro parecia um homem renovado, foi quando então deu pra perceber que a partir daquele momento, o aposentado solitário entendeu realmente o que o andarilho tinha tentado lhe dizer com palavras sobre tratar um animal com desprezo chamando de matungo “véio”.
Pois ,por velho não se perdem os valores adquiridos ao longo do tempo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
É por saber de onde viemos que respeitamos os rastros, cultivamos as sementes, e acreditamos no amanhã... Sem jamais esquecer e desrespeitar o que ficou pra trás, sabendo onde estamos no hoje.
ResponderExcluirÉ com encanto e admiração que acompanhamos a estrada com o andarilho, bebendo um pouco de sua sabedoria nessas aguadas, dividindo um pouco de conhecimento nos pousos ou simplesmente escolhendo caminhos pelas encruzilhadas.
É por ser assim, simples, e acreditar de alma e coração nos dizeres sábios dos antigos que nos emocionamos com os pensamentos que estão por trás das histórias.
Parabéns, ermão, por mais esse capítulo onde divides o teu conhecimento, e o dos nossos ancestrais, que ainda povoam nossas mentes e espíritos, prontos pra brotar pra fora, iluminando caminhos.
Um grande abraço! Que Deus te ilumine!