terça-feira, 31 de julho de 2012

Cavalo de tiro

Há um cavalo de tiro pra toda estrada comprida,
que vai tenteando o cabresto, mas vai tranqueando com a vida...
Um pingo manso de arreio que nos leve em rumo certo,
pois dependendo dos sonhos, nem tudo fica tão perto.

Feito um cavalo de tiro que se adelgaça sentando,
o homem vai pela estrada e segue assim, se costeando;
depois de muito estropiar-se traz o olhar mais profundo,
e aprende a livrar as pedras pra andejar pelo mundo.

Igual aos tentos da trança que aos poucos vão se afinando,
A vida é feita de rumos, e ao tranco vamos cruzando...
Que da porteira pra fora, os sonhos batem as asas,
e a paz que a gente procura "tá" aquerenciada nas casas.

Quem cruza as madrugadas firmando a rédea na trança,
deixa o suor pro sereno, depois que o pingo se cansa...
Que a estrada mostra a distância pra que a gente não se iluda,
que é preciso ter caminho, não basta um pingo de muda.

O cabresto apresilhado vai firmando o cinchador,
e traz com ele um motivo pra quem aprende com a dor...
Pois o corredor que leva, nos traz de volta também;
Junto a um cavalo de tiro, vai a saudade de alguém.

Talvez por isso que o tempo, a cada légua vencida,
nos cobra o tanto que andamos, pelas volteadas da lida,
pra nos dar um outro tanto, como forma de experiência,
e mostrar pelas distâncias, quanto vale ter querência.

Porque a vida tem sentidos que a gente sabe e não diz,
e sempre cansa o cavalo, tentado assim, ser feliz!
Mas quem tem pingo de tiro olha a estrada diferente,
apeia, troca os arreios, e toca a vida pra frente.

                                                         Zeca Alves & Gujo Teixeira


segunda-feira, 30 de julho de 2012

Coxilha

                                                            

      Depois de um final de semana muito agradável, volto á matear em silêncio, e mais uma vez me transporto ao meu interior, que é o que mais gosto de fazer; são nestas horas de interiorização que revejo meus rumos, e tudo aquilo que tenho DITO E FEITO... penso que deixei a desejar quando:
      -Esqueci de agradecer publicamente ao povo cruzaltense, principalmente aos urbanos, pois ao manifestar o apreço que tenho a minha terra, minha gente, minhas origens, sequer passou pela minha cabeça a possibilidade de despertar o complexo de inferioridade de uns e outros. Mas, é compreensível, somos seres humanos, e seres humanos são falhos. Partindo deste princípio, ao mesmo tempo que venho agradecer ao POVO cruzaltense, também venho através desta reflexão escrita, pedir perdão, se aquilo que mais prezo causou uma situação desconfortável através da falta de maturidade daqueles que por viverem de alma armada, acabam por distorcerem o que foi dito com a simples intenção de bendizer a querência que amo tanto.
     Creio que maturidade nem sempre se adquire com o passar dos anos, maturidade é um princípio que acompanha a humildade, humildade que não significa o jeito de mostrar-se ou de APARECER, e sim, o jeito de SER. Respeito a todos, inclusive ao urbanos, posto que, minha mãe é urbana, e eu não seria tão ingrato a ponto de esquecer quem me deu educação o suficiente para transitar em qualquer meio, conviver com qualquer tipo de gente, indiferente de classe social, cotidiano, etc, etc, etc... muito embora meu grau de estudo seja o mínimo (fator que não serve de exemplo pra ninguém), o maior orgulho de minha mãe (mulher URBANA) é justamente a questão de ter cumprido a missão de preparar os filhos para que pudessem andar por aí (mundo afora) com orgulho de serem dignos, de terem dignidade; Filhos sem vícios prejudiciais á imagem, á saúde, e incapazes de induzir novas gerações a qualquer descaminho no rumo dos princípios morais e éticos.
      Perdoem se acaso este CAMPEIRO, não soube expressar o orgulho de ser quem é!?
      Deixo aqui, com outras palavras, de um sábio filósofo CAMPEIRO, o que eu disse durante a premiação da 32ª Coxilha Nativista de Cruz Alta!

       "Meu canto não conhece desencanto,vem peleando a tanto, tanto, mas não cansa de pelear...
        hoje ja se houve a ressonância desta voz de peão de estância conquistando seu lugar."

       "Canto e minha voz quando levanto, não traz ódio, nem maldade, coisas que não sei sentir.
        Hoje o amanhã não me fascina, tenho o ontem que me ensina, e se disser eu vou mentir."

       "Peço pra quem julga e dá conceito, que esqueça o preconceito e me aceite como sou:
       -Manso como água de cacimba, mas palanque que não cimbra porquê o tempo enraizou."

       "Meu canto tem cheiro de terra e pampa, é um andejo que se acampa tendo o mundo por galpão!
        Grito pra que o mundo inteiro ouça, que é raiz de muita força rebrotando deste chão."

       "Canto nesta terra onde me planto, mas não pisem no meu pala que eu me empaco e me boleio.
        Canto pra pedir mais igualdade, e quem não gosta da verdade que se aparte do rodeio."

                                                                                                                          Adair Rubim de Freitas.
   
                Que venham outras coxilhas, que Cruz Alta siga esta terra abençoada culturalmente!


                Esta é minha sincera homenagem a todos aqueles que realmente me conhecem e sabem dos meus princípios morais, e dos valores que prezo, mas que acima de tudo me compreendem, me aceitam como sou, e me respeitam.

                                                              Aos demais... Meus lamentos!

                                                                                     Tchau e Gracias! Zeca Alves!
     

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Passagens...

                                               


















 Recordo tantas passagens neste viver de peão,
 Que por vezes me pergunto: “Quantas ainda virão”?
 É o jeito antigo que tenho, e que bem sabem os meus,
 De refazer o caminho pra estar mais perto de DEUS.

Ao de redor do braseiro me paro mais pensativo,
Olhando a vida de longe porque me sobram motivos.
No respingar da cambona, que vai molhando o topete,
O mate é parte de um ciclo onde tudo se repete.

Nascer é parte daquilo que já nos foi concebido,
Posto que os olhos se abrem para o que for percebido...
Como se tudo voltasse por conta do que existiu
Levando o ser novamente ao ponto de onde partiu.

O labutar recomeça todos os dias, e assim...
Vou a cavalo de encontro ao que faz parte de mim;
Pois, meu estado de espírito, reencontrei neste plano,
Na condição de querência, d’onde voltei ser humano.

Mas, sempre levo comigo uma saudade incontida,
Que marca várias passagens com chegadas e partidas,
E vejo nas despedidas, das tantas que a vida tem,
Que ela se faz de quem parte, e de quem fica também.

De um lado ao outro da vida, um eterno vem e vai;
Uma lembrança, um sorriso, uma lágrima que cai;
No ciclo, enfim, das esperas, entre o antes e o depois...
Há um sentimento constante, igual a um marco entre os dois.

Daí se explica esse jeito de reviver um momento,
Mesmo só por um instante, através do pensamento;
Os desencontros são fatos nesta sina de andar,
Cuja falta que sentimos, depois de nós vai ficar.

Quando o silêncio transporta o homem pra dentro de si,
Deixa o olhar mais distante, como fosse além daqui...
Onde os “recuerdos” revelam o sentido da existência,
E a matéria não separa espírito e consciência.

São circunstâncias do tempo, que pela mão nos conduz
Os caminhos que, em verdade, se mostram plenos de luz...
Sendo que a alma da gente, por certo sabe a razão
Que nos leva em rumo certo, ao sem fim da imensidão

                                                                     Zeca Alves.