quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pelos rumos de onde venho

                   O velho parceiro de idas e vindas ainda espuma a seu modo enquanto palmeio a cuia sorvendo o gosto mais nativo que se pode encontrar numa infusão. Mais uma vez o velho costume de rever a vida leva meu ser a refletir sobre o caminho percorrido, enquanto a alma, em vigília, teima em rondar a existência, onde sigo rumo ao desconhecido. As reflexões vem povoar meu silêncio que de tanto em tanto é quebrado pelo ronco do mate...
          Desta vez, num breve exílio povoeiro, minha inquietude fala a respeito do que se têm pôr nativo, nativista, nativismo, e o que realmente significam tais palavras.
           Ás vezes se criam mitos, estórias, e até mesmo movimentos tidos como se a palavra que dá título aos mesmos fosse tomada ao “pé da letra”; motivo este que me parece deixar claro o porquê das tendências e formações errôneas de opinião, pois uma má informação é, do meu ponto de vista, algo pior que informação nenhuma. Que rumo um pai daria aos seus filhos sendo que sempre que eles procurassem o conhecimento sobre algo que gostam, ou buscam, ou que diga respeito ao lugar onde nasceram ou vivem, e ele lhes passasse uma informação errada?
         Éh! Mais uma vez o silêncio que sempre me diz tanto, vem em forma de pensamento auxiliar nas minhas reflexões. 
        Visitando uns “recuerdos” volto ao tempo em que dormia no costado de um rádio toca fitas, para gravar canções terrunhas, músicas que sempre diziam algo condizente com o lugar que me deu a origem, que formou meu caráter, porque sem meias verdades, exaltavam minha terra, minha gente, minha querência, e por isso bastavam pra que meu orgulho de ser de onde sou, e que me faz ser quem sou, me enchesse de coragem e brio. Coragem que hoje tenho para opinar em defesa do que realmente é nosso. Naquela época, entre tantos que faziam parte do movimento musical gaúcho, lembro de um nome, que pra mim era e segue sendo uma das referências perfeitas para os que querem de fato cultivar o que é produzido aqui, para ser consumido aqui.
           Num canto simples Thelmo de Lima Freitas, com seus versos e melodias simples, puras e verdadeiras, nos mostra ainda hoje o que realmente é a música nativista do Rio Grande do Sul,
uma musicalidade ímpar, onde o autor jamais precisou rebusque de musicalidade alheia. Milongas, vaneiras, mazurcas, e tantos outros ritmos, divinamente compostos, sem que pra isso tenha necessidade de incluir em suas canções fragmentos de bluz, jazz, bossa nova, enfim... porque suas canções se bastam em cantar verdades pra os que de fato sabem o que ele diz.
            Engraçado, mesmo fazendo todas essas observações, percebo que a musicalidade no chamado movimento dos festivais nativistas, hoje em dia, por mais terrunha, por mais verdadeira que seja, menos é aceita pelos que se julgam aptos a fazer parte de tal movimento, e geralmente por simples e verdadeira basta pra ser ignorada. Talvez porque justamente os ditos virtuoses, que em sua musicalidade ímpar, acabam se vislumbrando com a sonoridade de outros povos, sem perceber se deixam levar pela ilusão de cantar pra o mundo, e acabam esquecendo da cantar suas próprias verdades, esquecendo de cantar pra o povo nativo do lugar de onde vieram, abrindo mão de um compromisso cultural que poderia lhes dar em troca muito mais reconhecimento do que conseguem, mesmo que o esforço seja redobrado e pouco recompensado. Daí vale a pena relembrar um verso de Thelmo de Lima Freitas:

                “Quem vendeu tesouras na ilusão povoeira
                   Volte pra fronteira para se encontrar”...

                Mas, o que fazer? O livre arbítrio foi dado aos seres humanos pra que cada um escolhesse o seu caminho; aqui, no mais profundo do meu ser, eu tenho a certeza de seguir pelo mesmo rumo de onde venho, pois quem busca atalhos na vida desvia o próprio caminho.
                Se versejador, serei sempre um versejador nativo; se integrante de algum movimento cultural, serei de um movimento realmente nativista gaúcho; se peleador, hei de pelear para que meus filhos conheçam o verdadeiro nativismo gaúcho.
                
               É certo que críticas virão, que olhares e conceitos sobre minha pessoa mudarão, mas sou defensor das minhas verdades, das verdades da minha gente, e saibam todos que meus argumentos são baseados no real significado das palavras.
                  
              Ah! E saibam os senhores que eu não mudo, pois nunca mudei, serei sempre o mesmo pra que todos reconheçam de longe. Graças a DEUS!                

Nativo: 1.natural, não adquirido, original. 2.Desafetado, desartificioso, singelo. 3. Natal,natalício.  4.próprio do lugar de nascimento. 5.Pátrio, vernáculo. 6.Nacional, não estrangeiro. 7. Miner Diz-se dos metais e metalóides encontrados livremente na natureza. 8. Reg (centro sul) Diz-se de pasto natural, de campo.

Nativista: Patriota ao extremo, que não cultiva o estrangeirismo.

Nativismo: s.m. Filosofia. Teoria segundo a qual o espaço e o tempo são dados nas próprias sensações, não são adquiridos por experiência.


      Gracias a todos que compreendem as minhas preocupações, e todos os que abraçam literalmente a mesma causa.
      
           

                                                                        Zeca Alves
                                                     28 de setembro de 2011 - Primavera .        
                                                  Num breve exilio povoeiro  - Pelotas – RS.
                                                           Das 19:30 ás 21:00 da noite. 

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