quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Das reflexões de um andejo

              O gosto do mate ainda é o mesmo das tantas madrugadas que vou somando neste destino de peão; os meus silêncios ainda me levam a refletir sobre o mundo á minha volta, sobre minha terra, minha gente, o rumo que escolhi, e o caminho que pretendo mostrar aos meus filhos.
           Mais um mate...
Como de costume o rádio ainda manda notícias da cidade, fala sobre o tempo e os fatos, enquanto aqui, no meu interior, me encontro mirando longe,  ao mesmo  tempo que  percebo a ausência  cada vez mais constante daquilo que pra mim é indispensável para que as origens de nosso povo não sejam esquecidas.
             Outro mate...
O rádio toca uma canção das tantas que não dizem nada á respeito de onde venho; emissora esta que se soma a tantas outras  que se dizem  comprometidas com seus ouvintes;mas que esquecem o compromisso  com a origem, a cultura, e  pouco  se importam com isso, mas sim, com o rumo por onde as tendências falam mais alto, e por conseguinte se comprometem única e tão  somente com a  importância em dinheiro que a audiência pode lhes dar.
             E mais outro mate...  
 Como toda santa madrugada , aqui  me encontro questionando  a mim mesmo  sobre o que quero pra mim, e pra os meus. De repente, pelo costume de rever meus conceitos, minhas atitudes, que na condição de ser humano não me livram de cometer erros, me ponho a escutar um cd maravilhoso, uma relíquia que guardo no meio de um pequeno acervo que tenho,  pequeno em números, porque  o conteúdo é  inestimável.
             Mais um mate...
Agora sim, ouvindo este cd (Meu Canto, Poemeto de campo), sinto-me como um filho que andava perdido e voltou a se encontrar pra ouvir as palavras do pai; faço minhas as palavras do poeta Gujo Teixeira:
“Eu visito meus “recuerdos” e diviso as distâncias, e ainda busco os meus limites, mesmo assim”...
              Bombeando o fogo onde me aqueço , enquanto a chuva lá fora goteja das telhas pra o chão , volto a recordar de um  equívoco, quando por errante , e pelo jeito que tenho de  dizer aquilo que penso, por sincero, acabei opinando sobre algo até então desconhecido por mim, e na minha ignorância, pensava eu, estar coberto de razão.
            Outro mate...
Benza Deus o conteúdo destes versos que no momento me dizem tudo,  ao mesmo tempo que também sinto-me diante do autor, um mestre, um sábio filósofo e guardião de tudo aquilo que diz respeito as minhas origens. Ao tempo que sorvo um mate atrás do outro e escrevo estas linhas, me sinto envergonhado pelo que um dia comentei com alguns amigos, mesmo sem ter o conhecimento que pensei que tinha sobre a obra de tal Poeta; percebo que no momento iluminado em que  o mesmo escreveu estes versos, as dores de sua alma, eram as mesmas que me inquietam até então.
              Uma virada no mate...
Mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, hoje sei exatamente o que dizem os poetas Lisandro Amaral,  Adriano Alves, Fabio Maciel , Sérgio Carvalho Pereira,Xirú Antunes (que ao lado de Silvério Barcelos deram este regalo aos que amam esta querência ), e a referência maior do meu povo na atualidade, Luiz Marenco, quando mencionam o nome respeitoso pela condição moral  e pela “sustância” espiritual que se traduz nos versos de Eron Vaz Mattos.
              Uma parada no mate, mais um pau de lenha no fogo...
Depois de muitas alegrias, e também desgostos no caminho cultural que pensei que fosse na sua grande maioria comprometido com as raízes da minha gente,  percebo que há sim, pelo menos uma meia dúzia de esteios, cernes vivos que fazem valer á pena as minhas reflexões.
Agora ,faço minhas as palavras do Poeta Eron Vaz Mattos: 


“Aqui,repartimos as dores em silêncio, pois a alma quando está ferida, sabe decifrar o idioma do coração.”

               É hora de me arrimar ao galpão, voltear a cavalhada, encilhar, e cumprir o compromisso de onde tiro o sustento.
                Levo de tiro pra o campo uma pergunta que me faço, e que me inquieta já faz muito tempo:
               Seria um meio de sobrevivência o motivo para que a cultura fosse posta em segundo plano, tendo as coisas que nos são mais valiosas , sido  desvirtuadas,  esquecidas em gavetas alheias, ou associadas a uma linguagem comercial e  tendenciosa, desprovida  de identidade e autenticidade?
               Desculpem aqueles que , por suas razões, discordam, mas ainda guardo na alma e no coração a gratidão pelo lugar que me deu origem,  a terra sagrada onde piso ,e por isso respeito; se as coisas andam perdendo o rumo, talvez esteja na hora de pensarmos  melhor sobre os valores que a existência pode ofertar aos que sabem que alma e coração não tem preço;
Aliás! Hoje, na data maior do povo gaúcho, são raras as emissoras que ainda tocam a autêntica e verdadeira música nativista, talvez por que a produção da mesma esteja atirada ao descaso pela grande maioria dos compositores que ainda se dizem nativistas, infelizmente.
                                           
Caro Poeta Eron Vaz Mattos!
                Também sinto que:
                                      
                                    “Empobreceu o meu canto,
                                     Já não é mais o que era...”
 
                                            
                                             Zeca Alves
                                    Fazenda Joaquim Oliveira 
                            Taim - 4º distrito do Rio Grande - RS.
                  20 de setembro de 2011. Das 5:15 ás 6:15 da manhã.

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